Com dedicatória a operário morto, livro sobre estádio palmeirense sai até abril.


Os pesquisadores palmeirenses Fernando Galuppo e José Ezequiel Filho trabalham nos últimos detalhes do livro 'Parque dos Sonhos', editado pela In House. A obra sobre o estádio alviverde, a ser lançada até o próximo mês de abril, é dedicada ao operário que morreu durante as obras de construção da nova arena.

Carlos de Jesus, então com 34 anos, faleceu em 15 de abril de 2013, vitimado pelo desabamento de três vigas - o corpo ficou aproximadamente quatro horas debaixo de uma peça de três toneladas, removida apenas com ajuda de um guindaste. O acidente fatal ocorreu no antigo gol da ferradura, em frente à avenida Francisco Matarazzo.

"Todos os palmeirenses e operários que construíram a arena hoje veem com orgulho e satisfação o reconhecimento de seu trabalho. A exceção, provavelmente, é a família do Carlos de Jesus. Essa foi a forma que encontramos para reverenciá-lo", explicou José Ezequiel Filho.

A ideia de produzir um livro sobre o estádio surgiu de uma conversa informal entre os dois pesquisadores. A obra, editada em português e inglês, conta em detalhes a vida do estádio, do jogo de abertura do Campeonato Paulista 1902, primeiro torneio oficial de futebol do Brasil, ao título da Copa do Brasil 2015.

O Parque Antarctica, a princípio usado para recreação dos funcionários da cervejaria, foi adquirido pelo Palestra Itália em abril de 1920, e materializou os sonhos dos fundadores do clube. A compra, chamada à época de 'loucura do século', tem destaque no livro a ser lançado em breve.

"Guardadas as devidas proporções, é como se um grupo de jovens de um clube recém-fundado hoje resolvessem comprar o Ibirapuera. O Parque Antárctica era na época o principal reduto de lazer dos paulistanos. Não existia uma agremiação com uma sede própria tão colossal como o Palestra Itália pensou nos anos 1920", diz Galuppo.

O livro traz alguns documentos raros, como os bônus vendidos aos torcedores interessados em colaborar com a aquisição do estádio e a escritura de compra, além da contribuição em cheque oferecida pela Companhia Matarazzo. A súmula do primeiro jogo do Palestra Itália como proprietário, uma goleada sobre o extinto Mackenzie, também está reproduzida.

O grande trunfo da obra são as fotos, muitas raras, inclusive de momentos extraesportivos, como a encenação da ópera Aida, a visita de Rodrigues Alves e o pouso de um avião. Os registros que chamam mais a atenção, porém, são os ligados ao futebol.

Um retrato do time infantil do Palestra Itália, datado de 1925, 11 anos após a fundação do clube, está entre os favoritos dos autores da obra. Na foto, com ótima qualidade, aparecem 11 garotos de uniforme surrado e olhar altivo, posicionados no antigo gramado.

"Essa imagem traduz a essência do que sempre foi o Palestra Itália, um clube operário, trabalhador, que se afirmou com o trabalho de sua gente. Na expressão dos garotos, fica claro o orgulho de ser palestrino. Ao vestir a camisa do clube, o imigrante, antes marginalizado, passa a ser alguém. Era muito mais que futebol", diz Galuppo.

Dividido em três atos, o livro destaca as principais transformações vividas pelo estádio ao longo de mais de um século de vida. Está documentada a época das arquibancadas de madeira, a construção das tribunas de concreto, a confecção do Jardim Suspenso e, finalmente, da moderna arena.

"O clube sempre foi pioneiro", diz José Ezequiel Filho. "A reforma que fizeram em 1933, por exemplo, foi um absurdo. A antiga numerada coberta é desse período. Em termos de modernidade, representou a mesma coisa que a arena representa agora", completou o pesquisador.

O passeio pela história do estádio contempla a Copa do Brasil 2015, conquistada de forma épica sobre o Santos no último mês de dezembro. Com apenas sócios-torcedores na plateia, o título foi o primeiro do Palmeiras após a inauguração da arena, construída de 2010 a 2014.

"O Palmeiras tem que andar adiante e penso que a arena foi a melhor coisa do século XXI. Mas acredito que ainda falta alguma coisa para preservar nossa alma. Com o livro, queremos mostrar que o clube sempre foi de vanguarda, mas sem perder a identidade. O progresso não precisa estar distante do que você tem como raiz. Hoje, a arena ficou impessoal. As pessoas vão como se fosse um teatro. Precisamos de um meio-termo", disse Galuppo.
Fonte: ESPN

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